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segunda-feira, julho 28, 2008

"Nome próprio", ou o dia em que poderia ter assistido "Wall-E"

A maior lição que eu aprendi ao assistir ao longa "Nome próprio" foi nunca trocar uma animação da Pixar por um filme de pessoas em crise.

O filme tem vários defeitos e o primeiro deles foi que por ocasião de força maior fui assisti-lo no lugar de "Wall-E".
Outro defeito é a história em geral.

A direção segura e a atriz é ótima, mas tudo é colocado a perder por um personagem chato. Quase um vilão.
Fosse um personagem masculino tendo o mesmo tipo de atitude e o filme seria chamado de machista.
Camila, a personagem principal, pula de um relacionamento para outro sem aprender nada com eles.
Imagina-se que uma pessoa vivida tenha aprendido mais sobre a vida e as pessoas. Que alcance graus de comunicação, intimidade e entendimento maiores do que aqueles que tem medo de viver.
Mas no caso de Camila vivida não tem um bom sentido, significa apenas alguém que se atira sem pára-quedas nas situações, ou por falta de bom senso ou porque ela não liga a mínima, para as preocupações, pra a vida e nem para as pessoas.
Todas as relações da personagem foram uma fantasia, ela transava com a idéia que fazia dos caras não se preocupando em conhecê-los de verdade.

Alguém que se orgulha das cicatrizes que a vida lhe causou (e aqui já revelo uma das frases finais do filme) não deveria se comportar como um louco que segura uma faca e fica fazendo cortes em si mesmo.
As cicatrizes das quais ela fala não foram causadas pela vida mas sim por ela mesma.

Creio ter explicado em parte porque a personagem central é incoerente, porém uma personagem incoerente não significa uma obra incoerente.
Neste caso o maior defeito foi o de criarem uma personagem pela qual o público não torce.
Pra mim não fazia a menor diferença se Camila iria ficar com o ex-namorado, com o nerd leitor do blog, com o homem dos seus sonhos ou com a amiga lésbica. Também não fazia a menor diferença se ela iria conseguir pagar o aluguel ou não.
Isto parecia não ter a menor diferença pra ela então por que deveria fazer alguma diferença pra mim?
O que fez diferença pra mim foram os R$16,00 de ingresso que eu paguei.
Afinal de contas uma escritora que vomita no teclado não parece ter muito respeito nem pelos seus leitores, seu futuro ganha pão.

A direção (no que é possível separá-la do roteiro) teve um árduo trabalho, um deles foi o de mostrar um escritor em crise.
Seria de se esperar alguém esmurrando a parede, arrancando os cabelos, quebrando vasos e a mobília como se os escritores fossem todos perturbados mentais ao invés de profissionais que utilizam a escrita como meio de comunicação (Nunca dê um vaso de presente para um escritor, afinal ele irá quebrá-lo na primeira crise criativa).
O filme até começou assim, em um misto de crise criativa com final de namoro temos um cigarro apagado na parede, mas depois deste começo ruim a coisa melhorou.
Um grande mérito (seja de roteiro ou de direção não importa, foi uma boa idéia) se deve àquelas letras que ficam passando na tela e diluem um pouco a atenção que de outra forma seria dirigida para a personagem, que afinal não está fazendo grandes coisas além de pensar e digitar, nada com apelo visual.

Uma história com meio, meio e meio ao invés do clássico começo meio e fim.
Não me refiro apenas ao final em aberto, mas ao fato de que a história não progride, tanto faz se começassem o filme no início do namora fracassado ao invés de na briga da separação ou se terminassem no final do próximo namoro fracassado. Ou no meio de qualquer um dos namoros fracassados.
Para um pessoa que se joga nos relacionamentos sem realmente se relacionar, apenas contando com a sorte para encontrar algum dia na sua cama alguém que queira passar o resto da vida junto, tanto faz como tanto fez.

Acho que uma escolha de personagem principal muito mais acertada seria o primeiro ex-namorado de Camila, no começo do filme achei que o cara fosse um crápula mas ao longo do filme fui mudando de idéia, nós não chegamos a conhecê-lo muito bem, ele só aparece nos momentos de briga.
Porém fiquei imaginando, culpado ou inocente, que "Nome próprio" seria um filme muito mais interessante se mostrasse a história de um cara que tem sua vida infernizada pela louca da ex-namorada que tem um blog e resolve difamá-lo publicamente, prejudicando sua vida, seu emprego e suas futuras relações.
Como vilã talvez Camila tivesse mais "direitos" de agir sem ter razão.

2 comentários:

Anônimo disse...

my friend, sua carteirinha expira soh no fim desse ano.
ainda da pra pagar meia.

Roteirista diletante disse...

Nem, venceu mesmo.
A minha carteira da UFSCar ainda é aquela que parece um xerox. Aliás, isto sempre causava olhares de desconfiança nas bilheteiras.
Não cheguei a renovar para aquela de plástico.